terça-feira, 27 de setembro de 2011

A existência do exoplaneta Fomalhaut b

À medida que os astrônomos continuam descobrindo planetas extrassolares às dúzias, a existência do exoplaneta Fomalhaut b tornou-se duvidosa.

imagem feita pelo Hubble do anel ao redor de Fomalhaut

© Hubble (imagem feita pelo Hubble do anel ao redor de Fomalhaut)

Revelado em 2008, o pequeno ponto avistado em torno de Fomalhaut, uma estrela a apenas 7,7 parsecs do nosso Sistema Solar, foi caracterizado como o primeiro exoplaneta a ser observado diretamente em comprimentos de onda ópticos.  Dados apresentados na semana passada numa conferência exoplanetária no Parque Nacional de Grand Teton, no estado americano do Wyoming, mostrou que Fomalhaut b se movia de um modo inesperado.

Até agora, Fomalhaut b tinha tudo para ser um planeta extrassolar perfeito. Duas imagens obtidas pelo Hubble, em 2004 e 2006, foram usadas para mostrar como o planeta traça uma órbita regular mesmo antes de um anel luminoso de poeira que rodeia Fomalhaut. Dizia-se que a gravidade do planeta estava auxiliando na limpeza de poeira perto do anel, o que lhe dava uma fronteira interior mais detalhada.

Paul Kalas, astrônomo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e autor principal do estudo de 2008, diz que a imagem mais recente indica que a órbita do planeta corta o disco de poeira. E isso levou a que Ray Jayawardhana, astrônomo da Universidade de Toronto no Canadá, questionar a existência do planeta. Numa tal trajetória, a influência gravitacional do planeta teria que perturbar o bem delineado disco.

Kalas reconhece que os dados mais recentes são confusos, mas permanece confiante que Fomalhaut b é um planeta. Centenas de exoplanetas já foram detectados indiretamente ao medir a sua influência gravitacional nas estrelas que orbitam ou ao registar mudanças de brilho à medida que passam em frente da estrela-mãe. Apenas um punhado de planetas foram diretamente observados.

Fomalhaut b é já visto como incomum entre os exoplanetas. É demasiado brilhante no visível para algo com apenas várias vezes o tamanho de Júpiter. E observações terrestres subsequentes no infravermelho foram improdutivas, mesmo embora esta seja a parte do espectro onde os jovens planetas quentes sejam mais brilhantes.

Kalas diz que uma explicação para o sistema Fomalhaut é que é mais velho do que se pensa, e por isso mais frio e mais tênue no infravermelho. O excessivo brilho óptico pode ser explicado se o planeta for rodeado por material brilhante, tal como Saturno é rodeado por um sistema de anéis, o que aumenta o seu albedo global.

Jayawardhana afirma que só este argumento deveria expulsar Fomalhaut b da lista de planetas observados diretamente, dado que a luz está vindo da poeira e não da superfície do planeta.

Os dados novos, entre eles a nova órbita que corta o disco de poeira, só acrescentam ao mistério. Kalas diz que pode só ser um problema com a imagem mais recente. As imagens de 2004 e 2006 foram obtidas através de um canal de alta resolução da câmara ACS (Advanced Camera for Surveys) do Hubble que falhou em 2007 e não foi restaurado quando a câmara foi reativada em 2009.

Para a imagem mais recente, Kalas teve que recorrer a outro instrumento do Hubble, o STIS (Space Telescope Imaging Spectrograph). A alteração para um detector diferente pode explicar o ligeiro desvio do planeta da sua posição esperada e por isso já marcou tempo de observação no Hubble para obter outra imagem com o mesmo instrumento em 2012. Se o movimento inesperado do planeta persistir, ele diz que é ainda possível explicar o porquê do disco em torno da estrela permanecer não perturbado: talvez a sua equipe esteja vendo o planeta ao mesmo tempo que alguma instabilidade dinâmica no sistema estelar o esteja afastando do seu percurso.

Christian Marois, do Instituto de Astrofísica Herzberg em Victoria, no Canadá, não gosta dos argumentos que se baseiam na coincidência. Com um período orbital de aproximadamente 800 anos, Fomalhaut b teria que ter mudado de órbita há bem pouco tempo.

Marois diz que é mais provável que Kalas esteja ajustando sua análise ao instrumento do Hubble, e que a órbita original permanece. Só o fato de Kalas ter avistado novamente Fomalhaut b em 2010 "é outra confirmação de que este objeto é real".

Jean Schneider, astrônomo do Observatório de Paris que mantém a base de dados do site exoplanet.eu, afirma que Fomalhaut b irá permanecer na lista. Mas no dia 22 de Setembro, acrescentou um comentário na entrada do planeta, dizendo que dúvidas foram levantadas.

Num e-mail enviado por Kalas a Schneider, este escreve que, para ser justo, Schneider também deveria fazer menção das dúvidas associadas com 1RXJ1609, um planeta observado diretamente no infravermelho que Jayawardhana co-descobriu e anunciou em 2008, poucos meses antes do anúncio de Fomalhaut b.

Esta disputa rancorosa mostra que ainda precisamos evoluir o conhecimento sobre os exoplanetas.

Fonte: Astronomia On Line

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