terça-feira, 27 de maio de 2014

A teoria toroidal dos buracos negros

Uma pesquisa de mais de 170.000 buracos negros supermassivos com o WISE (Wide-field Infrared Survey Explorer) da NASA, fez os astrônomos avaliarem uma teoria com décadas acerca dos vários aspectos destes objetos interestelares.

aglomerado da Fornalha

© NASA/JPL-Caltech (aglomerado da Fornalha)

A imagem acima mostra galáxias agrupadas no aglomerado da Fornalha, localizado a 60 milhões de anos-luz da Terra. A imagem foi obtida pelo WISE, mas foi melhorada artisticamente para ilustrar a ideia que o aglomerado estará, em média, rodeado por grandes halos de matéria escura (púrpura).

A teoria unificada dos buracos negros supermassivos e ativos, desenvolvida pela primeira vez no final da década de 1970, foi criada para explicar o porquê dos buracos negros, embora de natureza semelhantes, poderem parecer completamente diferentes. Alguns parecem estar envoltos em poeira, enquanto outros estão expostos e são fáceis de discernir.

O modelo unificado responde a esta pergunta, propondo que cada buraco negro está rodeado por uma estrutura de poeira, em forma de toro (donut). Dependendo da orientação destes donuts no espaço, os buracos negros assumem diversas aparências. Por exemplo, se o donut estiver posicionado de lado (a partir da perspectiva da Terra), o buraco negro está escondido da nossa vista. Se o donut for observado por cima ou por baixo, o buraco negro encontra-se exposto.

No entanto, os novos resultados do WISE não corroboram esta teoria. Os cientistas descobriram evidências de que algo que não uma estrutura em forma de donut pode, em algumas circunstâncias, determinar se o buraco negro está ou não escondido. A equipe ainda não determinou qual a causa, mas os resultados sugerem que o modelo unificado, de donut, não responde a todas as questões.

"A nossa descoberta revela uma nova característica dos buracos negros ativos que desconhecíamos, mas os detalhes permanecem um mistério," afirma a co-autora da pesquisa Lin Yan do IPAC (Infrared Processing and Analysis Center) da NASA, com sede no Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, EUA. "Esperamos que o nosso trabalho inspire estudos futuros para entender melhor estes objetos fascinantes."

O autor principal da pesquisa é o pesquisador de pós-doutorado, Emilio Donoso, que trabalhou com Yan no IPAC e, desde então, mudou-se para o Instituto de Ciências Astronômicas, da Terra e do Espaço na Argentina. A pesquisa também tem a co-autoria de Daniel Stern do JPL da NASA em Pasadena, e Roberto Assef da Universidade Diego Portales no Chile, anteriormente do JPL.

Cada galáxia tem um buraco negro massivo no seu núcleo. O novo estudo foca-se naqueles que se "alimentam", chamados buracos negros supermassivos e ativos, ou núcleos galácticos ativos. Estes buracos negros devoram o material gasoso ao redor, o que alimenta o seu crescimento.

Com o auxílio de computadores, os cientistas foram capazes de escolher mais de 170.000 buracos negros supermassivos e ativos a partir dos dados do WISE. Mediram então o agrupamento das galáxias que contêm buracos negros escondidos e buracos negros expostos, a medida em que estes se agrupam em todo o céu.

Se o modelo unificado fosse válido, e os buracos negros escondidos estivessem simplesmente escondidos pelos donuts na sua configuração vista de lado, então os pesquisadores esperariam que se agrupassem do mesmo modo que os expostos. De acordo com a teoria, uma vez que as estruturas em forma de donut têm orientações aleatórias, os buracos negros também deveriam estar distribuídos aleatoriamente. É como jogar vários donuts ao ar, aproximadamente a mesma porcentagem de donuts é vista de lado e é vista de cima ou de baixo, independentemente do seu agrupamento ou das suas distâncias.

Mas o WISE encontrou algo totalmente inesperado. Os resultados mostram que as galáxias com buracos negros escondidos estão mais agrupadas do que as com buracos negros expostos. Se estes resultados forem confirmados, os cientistas terão que ajustar o modelo unificado e chegar a novas maneiras de explicar porque é que alguns buracos negros aparecem ocultos.

Outra forma de entender os resultados do WISE envolve a matéria escura. A matéria escura é uma substância invisível que domina a matéria no Universo, superando a matéria normal que compõe as pessoas, planetas e estrelas. Cada galáxia fica no centro de um halo de matéria escura. Halos maiores têm mais gravidade e, por isso, puxam outras galáxias na sua direção.

Dado que o WISE descobriu que os buracos negros escondidos estão mais agrupados do que os outros, os pesquisadores sabem que estes buracos negros escondidos residem em galáxias com halos maiores de matéria escura. Embora os halos propriamente ditos não sejam responsáveis por esconder os buracos negros, podem ser uma pista para o que está acontecendo.

"A teoria unificada foi proposta para explicar a complexidade que os astrônomos estavam vendo," afirma Stern. "Parece que esse modelo simples foi demasiado simples. Como Albert Einstein disse, os modelos devem ser feitos 'o mais simples possível, mas não mais simples'."

Os cientistas ainda estão vasculhando ativamente os dados públicos do WISE, colocado em hibernação em 2011 após digitalizar a totalidade do céu duas vezes. Foi reativado em 2013, com o novo nome NEOWISE, numa nova missão para identificar objetos potencialmente perigosos próximos da Terra.

A pesquisa foi aceita para publicação na revista Astrophysical Journal.

Fonte: NASA

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