sábado, 22 de agosto de 2015

"Pedras planetárias" foram os blocos de construção dos maiores planetas

Pesquisadores do SwRI (Southwest Research Institute) e da Universidade de Queen, no Canadá, desvendaram o mistério de como Júpiter e Saturno provavelmente foram formados.

ilustração de um sistema estelar jovem e os gigantes gasosos

© NASA/JPL-Caltech (ilustração de um sistema estelar jovem e os gigantes gasosos)

Ironicamente, os maiores planetas do Sistema Solar foram provavelmente formados primeiro. Júpiter e Saturno, que são na sua maioria hidrogênio e hélio, presumivelmente acumularam os seus gases antes da nebulosa solar se dispersar. As observações de sistemas estelares jovens mostram que os discos gasosos que formam planetas geralmente têm uma vida útil de apenas 1 a 10 milhões de anos, o que significa que os gigantes gasosos no nosso Sistema Solar formaram-se provavelmente dentro desse espaço de tempo. Em contraste, a Terra provavelmente demorou pelo menos 30 milhões de anos a formar-se e, no máximo, até 100 milhões de anos. Assim sendo, como é que Júpiter e Saturno formaram-se tão rapidamente?

A teoria mais aceita para a formação dos gigantes gasosos é o chamado modelo de acreção de núcleo. Neste modelo, um núcleo do tamanho de um planeta, constituído por gelo e rocha, forma-se primeiro. Em seguida, o fluxo de gás e poeira interestelar anexa-se ao planeta em crescimento. No entanto, este modelo tem um calcanhar de Aquiles; especificamente, o primeiro passo do processo. A acumulação de uma atmosfera massiva requer um núcleo sólido com cerca de 10 vezes a massa da Terra. No entanto, estes objetos grandes, semelhantes a Urano e Netuno, tiveram de formar-se em apenas alguns milhões de anos.

No modelo padrão de formação planetária, os núcleos rochosos crescem à medida que objetos de tamanho similar são acumulados e assimilados através de um processo chamado acreção. As rochas incorporam outras rochas, criando montanhas; montanhas fundem-se com outras montanhas, levando a objetos do tamanho de cidades, e assim por diante. No entanto, este modelo não é capaz de produzir núcleos planetários suficientemente grandes num suficientemente curto espaço de tempo, a fim de explicar Saturno e Júpiter.

"O problema da escala de tempo está preso nas nossas gargantas há já algum tempo," afirma o Dr. Hal Levison, cientista do SwRI. "Não se sabia exatamente como objetos como Júpiter e Saturno podiam sequer existir," disse Levison. Novos cálculos feitos pela equipe mostram que os núcleos de Júpiter e Saturno podem formar-se dentro do espaço de tempo de 10 milhões de anos caso cresçam acumulando gradualmente uma população de pedras planetárias, objetos gelados com cerca de 30 centímetros em diâmetro. Observações recentes mostraram que o gás pode desempenhar um papel fundamental no aumento da eficiência da acreção. Assim, as pedras que entrem em órbita podem espiralar para o protoplaneta e ser assimiladas, assistidas pelo gás.

Levison, a Dra. Katherine Kretke e o Dr. Martin Duncan (ambos da Universidade de Queen em Kingston, Ontário) mostram que a acreção de "seixos" planetários pode produzir a estrutura observada do Sistema Solar desde que os seixos se tenham formado a um ritmo suficientemente lento para que os planetas em crescimento tenham tempo para interagir gravitacionalmente uns com os outros.

"Caso as pedras se formem demasiado depressa, a acreção levaria à formação de centenas de Terra geladas," afirma Kretke. "Os núcleos em crescimento precisam de algum tempo para arremessar os seus concorrentes para longe dos seixos, efetivamente fazendo com que 'passem fome'. É por isso que foram formados apenas um par de gigantes gasosos."

"Que eu saiba, este é o primeiro modelo a reproduzir a estrutura do Sistema Solar exterior, com dois gigantes gasosos, dois gigantes de gelo (Urano e Netuno) e um Cinturão de Kuiper intocado," comenta Levison.

"Depois de muitos anos realizando simulações computacionais do modelo padrão sem sucesso, é um alívio encontrar um novo modelo que é tão bem sucedido," acrescenta Duncan.

A descoberta, que muda a nossa visão de como todos os planetas se podem ter formado, foi publicada na edição desta semana da revista Nature.

Fonte: Southwest Research Institute

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