quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O Very Large Telescope revisita uma interessante colisão cósmica

O Very Large Telescope (VLT) do ESO, instalado no Observatório do Paranal, obteve novas imagens que revelam a espetacular consequência de uma colisão cósmica com 360 milhões de anos.

região em torno da galáxia em interação NGC 5291

© ESO (região em torno da galáxia em interação NGC 5291)

Entre os restos da colisão encontra-se uma jovem galáxia anã rara e misteriosa. Esta galáxia fornece uma excelente oportunidade de aprender mais sobre galáxias semelhantes que se pensa serem comuns no Universo primordial, mas que são normalmente muito tênues e se encontram muito distantes para poderem ser observadas com os telescópios atuais.

A galáxia NGC 5291, a oval difusa e dourada que domina o centro da imagem acima, é uma galáxia elíptica situada a quase 200 milhões de anos-luz de distância na constelação do Centauro. Há cerca de 360 milhões de anos atrás, a NGC 5291 esteve envolvida numa colisão dramática e violenta quando outra galáxia que viajava com altas velocidades chocou contra o seu núcleo. O choque cósmico originou a ejeção de enormes quantidades de gás para o espaço próximo que, mais tarde, deram origem à formação de um anel em torno da NGC 5291, que está também atualmente em interação, embora mais suavemente, com MCG-05-33-005, ou Galáxia da Concha, a estranha galáxia em forma de vírgula que parece estar parasitando o núcleo luminoso da NGC 5291.
Com o tempo, o material deste anel juntou-se e colapsou para formar muitas regiões de formação estelar e várias galáxias anãs, que aparecem como regiões brancas e azuis pálidas espalhadas em torno da NGC 5291 nesta nova imagem obtida pelo instrumento FORS, montado no VLT. A aglomeração de matéria mais massiva e luminosa, à direita de NGC 5291, é uma destas galáxias anãs, conhecida por NGC 5291N.
Pensa-se que a Via Láctea, como todas as galáxias grandes, se formou nos primórdios do Universo a partir da fusão de várias galáxias anãs menores. Estas galáxias pequenas, se sobrevivem por si próprias até aos nossos dias, contêm normalmente muitas estrelas extremamente velhas.
No entanto, a NGC 5291N parece não conter nenhuma estrela velha. Observações detalhadas obtidas com o espectrógrafo MUSE mostraram também que as regiões mais exteriores da galáxia possuem propriedades tipicamente associadas com a formação de novas estrelas, mas o que é observado não é previsto pelos atuais modelos teóricos. Os astrônomos suspeitam que estes aspectos invulgares possam ser o resultado de colisões massivas de gás na região.
A NGC 5291N não se parece com uma galáxia anã típica, antes pelo contrário, partilha um número impressionante de semelhanças com as estruturas que aparecem em muitas galáxias com formação estelar ativa no Universo distante, o que a torna um sistema único no nosso Universo local e um importante laboratório para o estudo de galáxias primordiais ricas em gás, as quais estão normalmente demasiado distantes para se poderem observar de forma detalhada com os telescópios atuais.
Este sistema incomum já foi observado anteriormente por uma grande quantidade de observatórios colocados em solo. A NGC 5291 foi estudada pelos astrônomos em 1978 com o auxílio do telescópio de 3,6 metros do ESO instalado no Observatório de La Silla. Estas observações revelaram enormes quantidades de material no espaço intergalático em torno da galáxia, o que sabemos agora serem as regiões de formação estelar e várias galáxias anãs formadas a partir do colapso do anel gasoso da galáxia. No entanto, as capacidades do MUSE, do FORS e do VLT só agora nos permitiram determinar algumas das propriedades e história da NGC 5291N.
Observações futuras, incluindo as que serão obtidas com o European Extremely Large Telescope (E-ELT), permitirão aos astrônomos desvendar ainda melhor os restantes mistérios desta galáxia anã.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “Ionization processes in a local analogue of distant clumpy galaxies: VLT MUSE IFU spectroscopy and FORS deep images of the TDG NGC 5291N”, de J. Fensch et al., que será publicado na revista especializada Astronomy & Astrophysics.

Fonte: ESO

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